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terça-feira, 3 de abril de 2012

QUARESMA FÉ E TRADIÇÃO


QUARESMA

FÉ E TRADIÇÃO

Por: Marcos Paulo

A nossa religião católica santifica o tempo por meio da sua ação litúrgica, exteriorizada nas cores, ritos, símbolos, procissões, vias sacras privadas e públicas. E entre os períodos do ano litúrgico por nós vivenciados, a quaresma em Goiana se constitui em uma verdadeira síntese da fé, piedade e religiosidade da nossa histórica Paróquia de Nossa Senhora do Rosário.

Marcados pelas cinzas na Quarta-feira de Cinzas a nossa cidade era tomada por um profundo silêncio em suas ruas e becos; os altares de igrejas e capelas eram desforrados e as sagradas imagens eram cobertas com panos pretos ou roxos. Tanto as dos nossos templos como as dos oratórios que eram muito comuns nas casas das famílias. O nosso povo ia com frequência às sextas-feiras beijar o pé da imagem de Bom Jesus dos Passos no Convento do Carmo e na Semana da Paixão, iam as procissões do Encerro e dos Passos, e era nessa ocasião durante o comovente encontro das sagradas imagens de Bom Jesus dos Passos e a Virgem das Dores que o saudoso Cônego Fernando Passos proferia o “Sermão das Lágrimas”.

Quando iniciava-se a semana santa, as Santas Missas eram sempre celebradas pela manhã e logo após o vigário saia em procissão com uma caixa de madeira contendo pães bentos para visitar os enfermos, dar a Sagrada Comunhão e um pão abençoado. É também desse período a “temida” Procissão dos Penitentes. Quando homens seminus saiam à meia noite da nossa Matriz se autoflagelando como um ato de penitência. Na noite da Quinta-Feira Santa acontecia a “mudança” da imagem do Senhor Morto do Carmo para a Matriz e o povo costumava aguardar ao longo da rua direita.

Merece registro a Capela do Santo Sepulcro, magnificamente adornada para transladação do Santíssimo Sacramento e o costume piedoso de “Dona Dina” em ungir com perfumes suaves embebidos em mexas de algodão a imagem do Senhor Morto para a procissão da Sexta Feira Santa.

No Sábado Santo com grande expectativa eram preparados jarros, tulipas, castiçais e toalhas de linho para a Vigília Pascal, após o anúncio solene da Ressurreição do Senhor, enormes cortinas roxas eram retiradas do altar ao dobrar dos sinos, campas e choro de emoção de alguns fiéis ao se devolver a beleza, o esplendor e a grandeza aos nossos altares centenários. Tudo isso é apenas um fragmento de tempos idos e de uma Paróquia que é um testamento vivo da história!

Mas todas essas vivências quaresmais tão presentes em Goiana pela piedade popular se repetem Brasil à fora e sobre tudo na região nordeste. Em Bom Jardim as mulheres costumavam cobrir o rosto para poder trocar as vestes da imagem do Bom Jesus para as procissões; em Feira Nova a imagem do Senhor Morto é adornada com plantas medicinais; na cidade de Carpina como em algumas cidades apenas homens podem conduzir o esquife do Senhor Morto. Na vizinha cidade de João Pessoa na Quinta-feira Santa após a Santa Missa da instituição da Santíssima Eucaristia e do Sacerdócio Ministerial, o Santíssimo Sacramento é conduzido solenemente em procissão da Igreja Matriz para uma capela noutra parte do bairro. Como também na Sexta-feira Santa pela manhã mulheres piedosas entoam cantos penosos enquanto acendem e colam velas aos pés do altar.

*Historiador e pedagogo

mpaurelio@bol.com.br

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